Não precisamos de carne e leite

“Não precisamos de carne e leite para ter saúde”, afirma médica brasileira
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É cada vez maior o número de médicos e especialistas que recomendam uma dieta vegana para a prevenção de doenças e melhoria da saúde. Dentre os profissionais defensores da alimentação vegetal, está a médica brasileira e mastologista Dra. Karla Daniela Santone. Em uma entrevista, ela revelou como uma dieta rica em carne e laticínios pode ser prejudicial para a saúde, dando dicas para aqueles que desejam ter uma alimentação mais saudável e, principalmente, ética.
Como mastologista, a Dra. Karla Daniela Santone estuda, previne, diagnostica, trata e reabilita todas as doenças de mama. Como parte do tratamento dos pacientes com câncer, ela recomenda que façam a substituição dos produtos de origem animal pelos de origem vegetal.
Ela se prontificou a tirar quaisquer dúvidas dos nossos leitores em sua página do Facebook, disponível aqui.

“As nossas necessidades diárias de proteína podem ser facilmente obtidas consumindo diferentes grupos de alimentos vegetais.”

Afinal, precisamos comer carne para ter proteínas? 
De jeito nenhum; nós não precisamos da proteína da carne. As proteínas sofrem o processo de digestão e são quebradas em aminoácidos, sendo que nós precisamos é dos aminoácidos, que estão também presentes na carne, mas que podem ser encontrados em abundância no reino vegetal e funghi.

É a combinação de diferentes alimentos fontes de proteínas vegetais que proporciona a quantidade e a qualidade ideal desses aminoácidos, pois as dietas hiperproteicas baseadas em alto consumo de proteína animal, além de desnecessárias, ainda foram associadas com maior risco de doenças crônicas em diferentes estudos importantes conduzidos na Europa e nos EUA.

Os principais alimentos vegetais ricos em proteínas são as leguminosas como lentilhas, ervilhas, soja, grão de bico, e todos os feijões; o grupo das oleaginosas como amendoim, amêndoas, castanha de caju, nozes, etc; o grupo das sementes como semente de girassol, de linhaça, de chia, de abóbora; o grupo dos cogumelos como shimeji, shitake, portobello, etc; e o grupo dos cereais integrais como aveia, arroz, quinoa, trigo, etc.
As nossas necessidades diárias de proteína podem ser facilmente obtidas consumindo diferentes grupos de alimentos vegetais.

“Quanto mais alimentos de origem animal a pessoa consome, maior é o risco de desenvolver doenças crônicas como diabetes, hipertensão, doença cardíaca e câncer.”

Nós precisamos de leite para obter cálcio?
Esse é um grande mito criado pela indústria de alimentos. Embora o leite e os laticínios sejam uma fonte de cálcio, não são a única e nem a mais saudável, pelo contrário, os estudos populacionais mostram que os EUA e os países da Europa com maior consumo de leite e laticínios são também os países com as maiores taxas de osteoporose [1], ou seja, não é o cálcio da dieta que determina a saúde óssea, e sim outros fatores como o consumo de frutas e vegetais, a ingestão de verduras de folhas verdes escuras ricas em vitamina K, os níveis adequados de vitamina D, potássio e magnésio, exercício físico, etc.

Os resultados do estudo EPIC-Oxford mostram que o risco de fraturas ósseas dos veganos que consumiram mais de 525 mg de cálcio/dia não foram diferentes das taxas de fratura em onívoros [2]. 

Um aumento do consumo de frutas e vegetais tem um efeito positivo na economia do cálcio e nos marcadores do metabolismo ósseo. O elevado teor de potássio e magnésio das frutas e legumes, com o seu teor alcalino, torna estes alimentos muito úteis para inibir a reabsorção óssea. Além disso, os veganos também tendem a ter maior consumo de tofu e outros produtos derivados de soja. As isoflavonas da soja são apontadas por ter um efeito benéfico na saúde óssea em mulheres na pós-menopausa. 

Em uma metanálise de 10 ensaios clínicos randomizados, as isoflavonas de soja mostraram um benefício significativo para a DMO da coluna vertebral de mulheres na menopausa [3]. Em outra metanálise, as isoflavonas da soja inibiram significativamente a reabsorção óssea e estimularam a formação óssea em comparação com o placebo [4].

Ao contrário, as dietas hiperproteicas, especialmente a proteína animal, podem aumentar a excreção renal de cálcio. Mulheres na pós-menopausa com dietas ricas em proteína animal e de baixa proteína vegetal tiveram alta taxa de perda óssea e aumento significativo do risco de fratura de quadril [5].

As principais fontes vegetais de cálcio são as sementes como gergelim, girassol, abóbora, os vegetais de folhas verdes escuras como a couve, agrião, escarola, rúcula, brócolis ou em alimentos como tofu, tahine e as oleaginosas. Uma boa opção são os leites vegetais fortificados disponíveis no mercado.

“Uma dieta vegana está associada a muitos benefícios para a saúde.”

A dieta com carne, leite e derivados pode ser prejudicial para a saúde?
Sim. Estudos recentes de renomadas instituições de pesquisa mostraram que quanto mais alimentos de origem animal a pessoa consome, maior é o risco de desenvolver doenças crônicas como diabetes, hipertensão, doença cardíaca e câncer [6, 7, 8]. No estudo Adventista, houve um aumento de 19% no risco de câncer nas pessoas que comiam carne, quando comparadas aos veganos [9].

O “Estudo das Enfermeiras de Harvard” demonstrou que o risco de câncer de mama foi 22% maior para as mulheres que consumiam carne vermelha 1,5 vezes ao dia, quando comparadas com as que comiam uma vez por semana. Mais ainda, para cada porção extra diária de carne vermelha houve um aumento de 13% no risco [10]. Em um estudo realizado na França, o risco de câncer de mama aumentou em 56% para cada 100 g adicionais de consumo de carne por dia [11].

A carne vermelha e o consumo de carne processada estão consistentemente associados a um aumento do risco de câncer colorretal. As pesquisas mostraram que aqueles que consumiam a quantia mais alta de ingestão de carne vermelha apresentaram riscos elevados, variando de 20% a 60%, de câncer de esôfago, fígado, colorretal e pulmão, do que aqueles na quantia mais baixa de ingestão de carne vermelha [12]. Além disso, o consumo de ovos foi recentemente demonstrado estar associado a um maior risco de câncer pancreático e a 17% maior risco de morte por câncer [13].

Leites e outros produtos lácteos podem conter altas quantidades de gorduras, particularmente, gordura saturada, e alguns fatores de crescimento, como o Fator de Crescimento Semelhante à Insulina 1 (IGF-1), sendo que esses componentes da dieta têm sido associados com o desenvolvimento de vários tipos de canceres, principalmente o câncer de próstata [14]. Um estudo realizado na Suécia, que analisou a incidência de câncer de pulmão, mama e ovário entre indivíduos com intolerância à lactose demonstrou que os riscos de câncer foram bem menores nos indivíduos que, devido a intolerância à lactose, consumiam menos leite e derivados [15].

É possível ter saúde com uma dieta vegana?
Sim, na verdade, é possível ter muito mais saúde. Uma dieta vegana está associada a muitos benefícios para a saúde devido ao seu maior teor de fibras, ácido fólico, vitaminas C e E, potássio, magnésio e muitos fitoquímicos e um maior teor de gordura insaturada. Em comparação com outras dietas vegetarianas, dietas veganas tendem a conter menos gordura saturada e colesterol e mais fibra dietética.

Uma dieta vegana é muito útil para aumentar a ingestão de nutrientes protetores e fitoquímicos e para minimizar a ingestão de fatores dietéticos envolvidos em várias doenças crônicas. Veganos tendem a ser mais magros, têm menores taxas de colesterol e menor pressão arterial, reduzindo o risco de doença cardíaca. No estudo Adventista, ficou demonstrado que os veganos vivem até 9,5 anos a mais que os onívoros e tiveram menor risco de doenças crônicas [16], o que é assustador visto que a população de controle do estudo, usada para comparação, por motivos religiosos consome pouca carne e derivados em comparação com a dieta do americano médio e a nossa. As vantagens para a saúde aparecem mais claramente definidas quando uma pessoa segue uma dieta vegana por mais de 5 anos.

Outro estudo muito importante sobre a saúde e o veganismo é o “The China Study” ou Estudo da China. Esse estudo mostrou que a chamada dieta ocidental, rica em grandes quantidades de carnes e lácteos também invadiu a Ásia no período pós-moderno. Enquanto as populações das pequenas cidades e vilarejos preservavam os mesmos hábitos alimentares por gerações, os moradores dos grandes centros urbanos foram seduzidos pela praticidade do fastfood e pelos excessos no consumo de carne e laticínios. O cientista e bioquímico PhD. em nutrição T. Colin Campbell e outros pesquisadores descobriram que muitos chineses que seguiam uma dieta basicamente vegetariana estrita continuavam totalmente saudáveis após os 90 anos [17].

“Eu sempre recomendo que as minhas pacientes com câncer de mama comecem a substituir os alimentos de origem animal pelos alimentos vegetais.”

Quais são os benefícios da dieta vegana?
Segundo a posição da Associação Dietética Americana, as dietas veganas devidamente planejadas são saudáveis, nutricionalmente adequadas e podem proporcionar vários benefícios para a saúde na prevenção e tratamento de certas doenças [18]. As dietas veganas tendem a ser mais baixas em gordura saturada e colesterol, e têm níveis mais elevados de fibra dietética, magnésio e potássio, vitaminas C e E, folato, carotenóides, flavonóides e outros fitoquímicos. Essas diferenças nutricionais podem explicar algumas das vantagens para a saúde daqueles que seguem uma dieta vegana variada e equilibrada que são: níveis mais baixos de colesterol no sangue, menor risco de doença cardíaca, níveis mais baixos de pressão arterial e menor risco de hipertensão e diabetes tipo 2.
O Estudo Adventista concluiu que em comparação com as dietas ovolactovegetarianas, as dietas veganas oferecem uma proteção adicional com grandes reduções no risco para obesidade, hipertensão, diabetes tipo 2 e mortalidade cardiovascular. Nesse grande estudo com 96.000 participantes chamado “Adventist Health Study”, o risco ajustado pela idade para o desenvolvimento de diabetes foi duas vezes maior nos onívoros, em comparação com os veganos.

Os veganos tendem a ter um menor índice de massa corporal (IMC) e menores taxas de câncer no geral. O estudo Adventista encontrou uma clara associação entre a dieta vegana e a redução no risco de todos os tipos de câncer. Especificamente, mulheres veganas tiveram 34% menor risco de câncer específico do sexo feminino [19].

“Dietas vegetarianas bem planejadas são apropriadas para indivíduos durante todos os estágios do ciclo de vida.”

Você recomenda uma dieta vegana para os seus pacientes?
Eu sempre recomendo que as minhas pacientes com câncer de mama comecem a substituir os alimentos de origem animal pelos alimentos vegetais. Durante o tratamento do câncer, é muito difícil fazer grandes mudanças na alimentação, pois as pacientes perdem o apetite e precisam comer aquilo que mais gostam ou que seja mais fácil, porém já ficou demonstrado que mudanças na dieta melhoram o prognóstico de mulheres com câncer de mama e é altamente recomendável que as pacientes substituam os alimentos ricos em gordura animal como carnes, ovos e laticínios por alimentos ricos em proteína vegetal, fibras, fitoquímicos e antioxidantes como os legumes, cereais integrais, frutas, leguminosas, etc. também é extremamente importante que evitem as frituras, os alimentos processados, os cereais refinados e o açúcar.
Como modo de prevenir não somente o câncer, mas também outras doenças crônicas, e ter um estilo de vida saudável, eu recomendo fortemente a alimentação vegana.

Gestantes, bebês e crianças podem adotar uma dieta livre de produtos de origem animal?
Dietas vegetarianas bem planejadas são apropriadas para indivíduos durante todos os estágios do ciclo de vida, incluindo gravidez, lactação, infância e adolescência e para atletas. As dietas veganas adequadamente planejadas satisfazem as necessidades nutricionais de lactentes, crianças e adolescentes e promovem o crescimento normal. Os veganos ao longo da vida têm altura, peso e IMC adultos semelhantes aos que se tornaram veganos mais tarde, sugerindo que dietas veganas bem planejadas na infância e na adolescência não afetam a altura ou o peso final do adulto. As dietas veganas na infância e na adolescência podem auxiliar no estabelecimento de padrões saudáveis de alimentação ao longo da vida e podem oferecer algumas vantagens nutricionais importantes. As crianças e adolescentes veganos têm menor ingestão de colesterol, gordura saturada e gordura total e maior ingestão de frutas, vegetais e fibras do que os não veganos.

Dietas veganas podem ser planejadas para atender às necessidades de nutrientes de mulheres grávidas e lactantes. Pesquisas indicam que o consumo de nutrientes de vegetarianas grávidas é semelhante ao das não vegetarianas e que não existem diferenças significativas na saúde em bebês nascidos de mães vegetarianas versus não-vegetarianas. Porém, como há diferenças nas necessidades nutricionais da mulher quando ela engravida, ela irá precisar de mais cálcio, ferro, omega3, vitamina B12 e, portanto, a suplementação se torna importante nesse período, como em qualquer gravidez. O ajuste nutricional acaba sendo importante para que a dieta fique de acordo com as exigências desse período.

“Os veganos devem prestar atenção na sua ingestão diária de cálcio, ômega 3 e ferro, mas isso não chega a ser um problema.”

Veganos devem suplementar algum nutriente ou vitamina?
Depende. Primeiro deve-se dosar através de um exame simples de sangue, os níveis das vitaminas B12 e D. A vitamina B12 é produzida por bactérias e não é encontrada no reino vegetal, mas nem todos os veganos necessitam suplementar vitamina B12 e metade dos onívoros também tem carência dessa vitamina, como mostram estudos recentes, e também precisam de suplementação. Já a vitamina D pode ser facilmente obtida pela luz do sol. No caso de pessoas que não possam ou não consigam se exporao sol por qualquer motivo, um suplemento de Vitamina D2 é indicado pois essa vitamina é muito importante na prevenção do câncer e no metabolismo ósseo.

Os veganos devem prestar atenção na sua ingestão diária de cálcio, ômega 3 e ferro, mas isso não chega a ser um problema, basta introduzir os alimentos e as combinações certas que as necessidades nutricionais serão alcançadas facilmente.

“A necessidade de suplementação não é exclusividade dos veganos.”

A vitamina B12 é um problema para os veganos?
Para os veganos, a vitamina B12 pode ser obtida pelo uso regular de alimentos fortificados com vitamina B12, como leite de soja fortificada, bebidas vegetais e alguns cereais matinais; caso contrário, um suplemento semanal de B12 pode ser necessário. Nenhum alimento vegetal não fortificado contém qualquer quantidade significativa de vitamina B12 ativa, porém isso não é um problema, pois metade da população onívora também tem deficiência dessa vitamina e a necessidade de suplementação não é exclusividade dos veganos, assim como suplementamos iodo no sal de cozinha para evitar o bócio da tireoide, assim como gestantes onívoras suplementam ferro, etc. Mas é importante conhecer os seus níveis de vitamina B12 e suplementar se necessário, pois essa vitamina tem um importante papel no sistema neurológico e sanguíneo.

“Os veganos devem comer muito feijão, lentilha, grão de bico, ervilhas, soja na forma fermentada e cereais integrais, além de uma fruta cítrica de sobremesa.”

O que um vegano deve comer para prevenir a anemia?
A incidência de anemia ferropriva entre veganos é semelhante à dos não vegetarianos. Embora os adultos veganos tenham menores reservas de ferro do que os não vegetarianos, seus níveis de ferritina sérica estão geralmente dentro do normal e há evidências de que a adaptação a menor ingestão ocorre a longo prazo e envolve tanto a absorção aumentada como a diminuição de perdas.

Os alimentos vegetais como as leguminosas e os feijões são ricos em ferro, porém o ferro dos alimentos vegetais é o ferro não heme, que é sensível a ambos os inibidores e intensificadores da absorção de ferro. Os inibidores da absorção de ferro são os fitatos, o cálcio e os polifenólicos no chá, café, chás de ervas e cacau. Algumas técnicas de preparação de alimentos, como deixar de molho e germinar feijões, grãos e sementes, podem diminuir os níveis de fitato e assim aumentar a absorção de ferro. Outros processos de fermentação, como os usados para fazer missô e tempeh, também podem melhorar a biodisponibilidade do ferro.

A vitamina C encontrada em frutas e vegetais pode aumentar substancialmente a absorção de ferro e reduzir os efeitos inibitórios dos fitatos e assim melhorar o estado de ferro. Devido à menor biodisponibilidade do ferro de uma dieta vegetariana, as ingestões de ferro recomendadas para os vegetarianos são 1,8 vezes as dos não vegetarianos e, portanto, os veganos devem comer muito feijão, lentilha, grão de bico, ervilhas, soja na forma fermentada e cereais integrais, além de uma fruta cítrica de sobremesa.

Existe alguma doença ou condição física que impeça alguém de tornar-se vegano? 
Parece que pacientes em diálise tem dificuldade com a dieta vegana. Isso ocorre porque a maioria dos alimentos vegetais são ricos em fósforo ou potássio. As pessoas em diálise tendem a precisar de grandes quantidades de proteína e é difícil obtê-la de vegetais sem também obter fósforo. Pode-se usar os quelantes de fósforo em pacientes renais crônicos, mas a recomendação para esses pacientes é evitar as leguminosas e as nozes.

Quais alimentos vegetais devem ser ingeridos para um consumo adequado de ômega 3 e vitamina D?
As principais fontes vegetais de ômega 3 são a semente de linhaça, a chia, as nozes e castanhas e as algas. A linhaça é a melhor fonte e pode ser consumida na forma de óleo, sendo que em 1 colher de sopa de óleo de linhaça encontramos 5 gramas de ômega-3. Esse óleo pode ser preparado em casa e adicionado ao alimento pronto para que não seja submetido ao aquecimento. Também pode-se utilizar a semente de linhaça inteira, pois mesmo inteira, ocorre absorção do ômega-3 que ela contém, ou pode-se triturar a linhaça e guardar no congelador e adicionar essa farinha diretamente na comida pronta.
Já a vitamina D não se encontra em quantidades suficientes no reino vegetal, porém a sua maior fonte é a luz solar. 

A vitamina D é produzida quando uma forma inativa do nutriente é ativada na sua pele quando exposta ao sol. Porém, como muitas pessoas passam a maior parte do tempo protegidas da luz do sol, a produção de vitamina D acaba sendo limitada, mas mesmo períodos curtos de exposição ao sol, 15 minutos, 3x/semana, podem proporcionar mais que a recomendação diária de vitamina D. Não há fontes vegetais ricas em vitamina D, porém cogumelos expostos à luz ultravioleta (UVB) pelos produtores podem ser ótimas fontes veganas da vitamina D, basta verificar o rótulo nutricional da embalagem. Um estudo mostrou que expor 84g de cogumelos comuns a raios UVB durante 5 minutos fez com que ficassem com 86,9 µg (3.476 IU) de vitamina D2, o que é bem superior à dose diária recomendada [20].

“Prejudicial para a saúde é não tentar.”

Há uma grande controvérsia a respeito da soja – alguns alegam que ela pode ser prejudicial, outros dizem que ela tem seus benefícios. Afinal, consumir soja faz mal para a saúde?
Não, a soja não faz mal para a saúde. Como a maioria dos outros alimentos vegetais, as escolhas mais saudáveis são aquelas que não são processadas, para que elas mantenham todos os seus nutrientes originais. Os produtos da soja, tais como o tempeh, o edamame, ou o missô, são provavelmente as melhores escolhas.

Estudos descobriram que a proteína de soja pode reduzir o risco de câncer, incluindo mama, cólon e próstata [21]. As mulheres que incluem produtos de soja em sua rotina são menos propensas a desenvolver câncer de mama [22]. Um estudo da Califórnia mostrou que as mulheres que consomem em média uma xícara de leite de soja ou meia xícara de tofu diariamente têm cerca de 30% menos risco de ter câncer de mama [23].

Outro estudo, este de Xangai, mostrou que as mulheres com câncer de mama que consumiam regularmente produtos de soja, como o leite de soja, tofu ou edamame, tinham um risco 32% menor de recorrência e um risco 29% menor de morte, em comparação com as mulheres que consumiam pouca ou nenhuma soja [24]. Estudos em homens e mulheres mostraram que a soja não atrapalha a fertilidade e não impede a reprodução e, além disso, os adultos que tinham sido alimentados com fórmula infantil de soja enquanto bebês não tiveram nenhuma diferença na sua saúde reprodutiva quando comparados com os adultos que tinham sido alimentados com fórmula de leite de vaca [25].

A soja pode ajudar a prevenir o câncer nos homens também e não têm efeitos adversos. Uma meta-análise publicada em Fertility and Sterility, baseada em mais de 50 grupos de tratamento, mostrou que nem os produtos de soja nem os suplementos de isoflavona da soja afetam os níveis de testosterona nos homens [26]. Uma análise de 14 estudos publicados no American Journal of Clinical Nutrition mostrou que o aumento da ingestão de soja resultou em uma redução de 26% no risco de câncer de próstata mesmo com produtos de soja não fermentados, como leite de soja e tofu [27].

Qual cardápio você sugere para os veganos iniciantes?
Para todo mundo que deseja fazer uma mudança na alimentação eu sugiro sempre procurar uma boa nutricionista vegetariana ou que esteja atualizada com o vegetarianismo/veganismo. 

A nutricionista é a profissional mais indicada para montar cardápios diários, calcular as calorias e os nutrientes das refeições e ajudar na transição para o vegetarianismo. Caso isso não seja possível por qualquer motivo como a pessoa morar em uma cidade que não tem nutricionista vegetariana ou por questões financeiras, não tem problema, pois a internet está cheia de informações sobre o veganismo e sobre o que comer e como comer, e também há muitas páginas de receitas que ajudam muito nesse período de transição.

Eu sugiro que as pessoas interessadas no veganismo montem pratos coloridos, variados, que contenham sempre 2 grupos de proteínas vegetais diferentes como por exemplo um cereal integral e uma leguminosa, e que façam adaptações das receitas que já estão acostumados como por exemplo no lugar de arroz, feijão e bife preparar arroz feijão e shimeji. Ou no lugar de macarrão a bolonhesa, preparar macarrão integral ao sugo com ervilhas; no lugar de sopa de galinha, preparar uma bela sopa de lentilhas com batatas e cenoura; no lugar do prato principal ser uma carne, preparar um grão de bico que é super-proteico e riquíssimo em ferro. 

Substituir o leite de vaca ou o creme de leite das receitas por leites vegetais como o de aveia, o de amêndoas ou o de coco, que são deliciosos e podem até ser feitos em casa. Experimentar novos temperos e especiarias e descobrir novos sabores como o curry, tempero da culinária indiana que dá um sabor espetacular a tudo. Não esquecer de ter sempre as hortaliças de acompanhamento, principalmente as verduras ricas em cálcio como couve, agrião e brócolis e os legumes ricos em betacaroteno como tomates, cenoura e abóbora. Também acrescentar o grupo das sementes nas preparações como a chia, a linhaça e a semente de girassol e aproveitar as gorduras boas do coco, do abacate, do tahine, do amendoim, das nozes e castanhas e do azeite de oliva para dar aquele sabor especial aos pratos.
Prejudicial para a saúde é não tentar.

FONTE:

Referências
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[5] FESKANICH, Diane et al. Protein consumption and bone fractures in women. American journal of epidemiology, v. 143, n. 5, p. 472-479, 1996.

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[12] CRAIG, Winston J.; MANGELS, Ann Reed. Position of the American Dietetic Association: vegetarian diets. Journal of the American Dietetic Association, v. 109, n. 7, p. 1266-1282, 2009.

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[16] ORLICH, Michael J. et al. Vegetarian dietary patterns and mortality in Adventist Health Study 2. JAMA internal medicine, v. 173, n. 13, p. 1230-1238, 2013.

[17] CAMPBELL, T. Colin; CAMPBELL, Thomas M. The china study. 2005.

[18] CRAIG, op. cit.

[19] PENNIECOOK-SAWYERS, op. cit.

[20] KALARAS, Michael D.; BEELMAN, Robert B. Vitamin D2 enrichment in fresh mushrooms using pulsed UV light. Available online at: foodscience. psu.edu/directory/rbb6/VitaminD Enrichment.pdf, 2008.

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[22] WU, A. H. et al. Epidemiology of soy exposures and breast cancer risk. British journal of cancer, v. 98, n. 1, p. 9-14, 2008.

[23] GUHA, Neela et al. Soy isoflavones and risk of cancer recurrence in a cohort of breast cancer survivors: the Life After Cancer Epidemiology study. Breast cancer research and treatment, v. 118, n. 2, p. 395-405, 2009.

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[26] HAMILTON-REEVES, Jill M. et al. Clinical studies show no effects of soy protein or isoflavones on reproductive hormones in men: results of a meta-analysis. Fertility and sterility, v. 94, n. 3, p. 997-1007, 2010.

[27] YAN, Lin; SPITZNAGEL, Edward L. Soy consumption and prostate cancer risk in men: a revisit of a meta-analysis. The American journal of clinical nutrition, v. 89, n. 4, p. 1155-1163, 2009.


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