Muitas pessoas afirmam não ter força
de vontade suficiente para abandonarem de uma vez por todas o consumo de
alimentos de origem animal e caminharem para o veganismo. Passam pela dor de se
assumirem egoístas e fracas por não conseguirem o impulso necessário para mudar
a alimentação e ainda darem valor demais ao sabor de alimentos como carnes,
laticínios e pratos ovolácteos em detrimento do sofrimento, já bastante
conhecido por eles, dos animais vítimas da pecuária e da pesca. Se você se identifica
com elas, este artigo é para você.
Compreendendo a dificuldade de pessoas como você de vencerem os
prazeres viscerais, relembramos que nem todo mundo tem a mesma capacidade e
força de mudar rapidamente para o vegetarianismo estrito, o primeiro grande
passo na transformação em vegano. Enquanto algumas pessoas conseguem essa
mudança em poucas semanas ou mesmo dias, muitas outras demoram meses ou mesmo
anos (cons)cientes de que precisam mudar a alimentação mas empacadas no lacto
ou ovolactovegetarianismo ou no consumo de carnes, sem força de vontade
suficiente para continuarem a transição.
A você que se identifica com esse segundo caso, trago esse guia
de dez passos para facilitar e, quem sabe, até promover sua transição,
tirando-o da aflição de continuar consumindo alimentos que você sabe que são
frutos de intolerável exploração animal. É improvável que funcione para 100%
das pessoas que estejam nessa situação, já que muitos possuem particularidades
diversas que as inibem de caminhar sem empecilhos rumo ao veganismo, mas é
esperado que dê certo pelo menos para um percentual razoável de quem está nessa
situação.
1. Comece a experimentar a culinária
vegana
A culinária livre de alimentos de origem animal é imensamente
diversificada, com milhares de pratos e bebidas a serviço das pessoas ávidas
por sentirem prazer no paladar, incluindo opções que substituem diretamente
suas versões comuns, como hambúrgueres, queijos, bolos, coxinhas, pastéis,
tortas, pizzas, até churrascos. E há pratos veganos para todos os gostos,
restrições alimentares e condições financeiras.
Comece por consumir alimentos veganos em restaurantes
vegetarianos vegan friendly. Neles você terá à disposição milhares
ou mesmo milhões de combinações de pratos deliciosos. Se não gostar de um ou
outro prato vegano que comeu, monte outros nas próximas vezes que for comer
fora. Persista na tentativa-e-erro até encontrar pratos que agradem o seu
paladar, lembrando-se que há milhões de combinações possíveis.
O passo seguinte é começar a fazer em casa seus próprios pratos
veganos, priorizando os que tenham ingredientes mais econômicos e fáceis que
possam substituir em qualquer refeição de qualquer dia da semana o que você
estava comendo até então. Evite nesse início pratos nutritivos de menos, como
macarronadas e frituras.
2. Pesquise sobre a saúde dos veganos,
como eles se mantêm saudáveis
Se você ainda tem medo de não obter nutrientes suficientes na
alimentação vegana, leia os pareceres de instituições alimentares que aprovam o
vegetarianismo estrito como opção alimentar saudável. Se for trabalhoso ler
páginas e páginas desses documentos, basta ler os seus resumos (abstracts) que você
já terá uma noção de que não existe risco em aderir à alimentação vegana, havendo
somente os cuidados de balancear bem os alimentos de suas refeições,
suplementar a vitamina B12 e tomar todos os dias alguns minutos de banhos de
sol para o corpo produzir vitamina D.
Sugestões de leitura são os pareceres da Academia Americana de
Nutrição e Dietética (AND, antiga Associação Dietética Americana), o parecer conjunto da AND
e da Associação de Nutricionistas do Canadá (Dietitians
of Canada), o material do Physicians Comittee for Responsible
Medicine e o parecer do brasileiro
Conselho Regional de Nutrição da 3ª Região sobre dietas vegetarianas.
3. Pesquise sobre os impactos
ambientais e de exploração humana da pecuária e da pesca
Antes de se impelir, por exemplo, a assistir a documentários com
cenas fortes de sofrimento animal, comece por materiais mais leves, como os
relatórios e notícias sobre os impactos ambientais da pecuária e da pesca e
também reportagens sobre exploração de mão-de-obra em fazendas de gado e
empresas frigoríficas.
Conhecer a imensa pegada ecológica e o regime de superexploração
trabalhista dessas atividades será um grande incentivo para você começar a
deixar de ver graça e positividade no consumo de alimentos de origem animal e
passar a encará-los negativamente. Essa providência também vai reforçar em você
a empatia pelo meio ambiente e pelos seres humanos vitimados pela indústria
desses alimentos.
Materiais ambientais recomendados são os relatórios Livestock’s Long Shadow,Livestock and Climate Change, TerraClass, Priority Products and
Materials e
o documentário legendado Meat the Truth.
Recomenda-se aqui também a busca por conteúdo que denuncie os impactos
ambientais da pesca. Já sobre a exploração humana, são recomendados o site Repórter Brasil, o hotsite Moendo Gente, o documentário Carne e
Osso e diversas
reportagens sobre superexploração de mão de obra no site do Instituto
Humanitas Unisinos.
4.
Leia materiais que refutem as crenças carnistas
Um outro passo muito importante é pôr abaixo todas as suas
antigas crenças sobre as supostas inviabilidade do veganismo e aceitabilidade
do consumo de alimentos de origem animal. Isso deve solucionar as maiores
dúvidas que você ainda tenha sobre o não consumo de produtos do sofrimento
animal, livrar você da insegurança que lhe resta e não retroceder perante
argumentos opositores do veganismo.
Isso se dará pelo contato com as refutações dos mitos e falácias
carnistas. Sem nenhum argumento racional funcionando em favor dos alimentos
animais, continuar consumindo-os vai se tornar ainda mais insustentável dos
pontos de vista ético e psicológico. Somado isso aos passos anteriores, a
relutância vai diminuir mais e mais.
Conteúdo recomendado para a leitura nesse passo são os guias de falácias e de mitos do carnismo aqui no Veganagente, os quais, juntos,
refutam mais de 200 argumentos opositores do veganismo.
5. Assista a documentários
pró-veganismo e vídeos de abate
Os documentários em favor do veganismo derrubarão o restante da
sua relutância em aderir ao vegetarianismo estrito. Depois de lhes assistir,
você não verá mais nenhuma graça em continuar consumindo alimentos de origem
animal. O sabor e o cheiro deles já deverão ser bem inferiores a todo o
conhecimento que você já juntou sobre como é negativo persistir em seu consumo,
além do fato de que você já terá adorado a culinária vegana, encontrando nela
um porto seguro e um novo mundo de delícias.
Comece pelos vídeos mais leves, com A Engrenagem, A Carne É Fraca, Uma Vida Interligada e Troque a Faca pelo Garfo.
Em seguida você parte para os mais pesados, como Terráqueos e From Farm to Fridge, e também
vídeos que mostrem abates de animais, incluindo peixes morrendo
asfixiados depois de tirados da água por pescadores.
6. Exercite a definitiva rejeição
psicológica pelos alimentos de origem animal
O último passo para transformar seu antigo apego às carnes, aos
laticínios, aos ovos e aos derivados apícolas é processar psicologicamente tudo
o que você agora vê de errado no consumo desses alimentos e converter esse
conhecimento em nojo deles.
A partir daí, eles não serão mais associados, em sua mente, a
sabor, prazer e alegria de comer, mas sim a sofrimento não humano e humano,
escravidão, mutilações, mortes, sangue, dor, destruição ambiental… E isso com
certeza vai tirar de você os últimos resquícios de resistência ao veganismo, já
que os alimentos de origem animal terão passado a ser psicologicamente vistos
por você como não alimentos, tanto
quanto carne humana e leite canino.
7. Consulte dicas de como ter uma
transição saudável e segura para o veganismo
É essencial você obter dicas de como levar adiante, com
tranquilidade, segurança e até conforto, sua transição ao vegetarianismo
estrito e, em seguida, ao veganismo. Há duas maneiras de consegui-las:
primeiro, assistindo ao vídeo que gravei, em
duas partes, para o canal Consciencia.VLOG.br; segundo,
obtendo-as através de contato com pessoas já veteranas no veganismo.
8. Solucione suas dúvidas restantes
Muito importante também será tirar as últimas dúvidas que ainda
inibem você de abraçar por completo o veganismo e nem as respostas veganas a
mitos e falácias carnistas, nem os documentários, nem as dicas para uma boa
transição puderam responder completamente. Isso você poderá fazer pelo contato
com veganos veteranos e com autores de blogs que respondam às questões dos
leitores. Uma dica é usar o formulário de perguntas na barra direita do Veganagente (link alternativo no
Ask.fm).
9. Comece a substituir os produtos não
alimentícios que contenham ingredientes de origem animal
Já no vegetarianismo estrito, o próximo passo que você vai dar
rumo ao hábito de consumo plenamente vegano é substituir os antigos produtos
não alimentícios que contenham ingredientes de origem animal, como por exemplo
glicerina comum, sebo bovino, lanolina e cera de abelha, por alternativas
veganas, livres desses componentes. Não se trata de deixar de consumir, por
exemplo, sabonetes, cremes dentais e xampus, mas sim trocar de marca,
procurando quais marcas são livres de ingredientes de origem animal.
10. Comece a verificar listas de
empresas que testam ou não testam seus produtos em animais
A consulta a listas de empresas que ainda hoje subsidiam ou
realizam por conta própria testes em animais é um dos passos mais complicados,
mas é estritamente necessário ao se adotar um comportamento de consumo
minimamente ético. Existem listas e arquivos de SACs disponíveis na internet
brasileira, tendo destaque as listas do site da ONG Projeto
Esperança Animal e do PETA e o grupo SAC Vegano no Facebook.
O veganismo é frontalmente contrário à exploração e tortura de
animais em testes de segurança e qualidade, buscando pressionar as empresas a
abandonarem os modelos animais desses testes e adotarem modelos alternativos em
substituição. Você compreenderá isso melhor ao assistir a documentários como Não Matarás.
Realizando esses dez passsos, você já poderá se considerar
plenamente vegano e terá se livrado do peso na consciência de não ter forças
suficientes para aderir ao veganismo mesmo simpatizando muito com ele. Mas
tenha em mente que nem todo produto testado em animais você conseguirá deixar
de consumir, como remédios e combustíveis. O veganismo tem limites em suas
práticas, como eu explico na série de vídeos Os Limites do Veganismo, mas isso
não significa que é ok continuar consumindo produtos sujos, alimentícios ou
não, que você pode substituir com facilidade.
O veganismo, na medida do possível, promove a libertação da
consciência e o abraço de uma ética livre de contradições sobre a dignidade dos
animais não humanos. E isso será percebido com muito prazer por quem conseguir
derrubar suas resistências internas à veganização.
FONTE: Blog
Veganagente
Nenhum comentário:
Postar um comentário